A COLÔNIA MILITAR E O ALDEAMENTO: A IMPORTÂNCIA PARA O IMPÉRIO
A ocupação dos vazios demográficos era uma preocupação da Coroa Portuguesa que passa a fracionar o território brasileiro criando novas unidades administrativas, promovendo a descentralização que iam dando paulatinamente, a consolidação e defesa do território.
As ameaças à integridade territorial portuguesa ainda persistiam em função dos constantes conflitos fronteiriços e possíveis ataques de ditadores e caudilhos que surgiam na Argentina e Uruguai, principalmente onde os grandes rios navegáveis tinham seu curso ligado a aqueles países limítrofes, que é o caso da Bacia do Paraná.
De Jataí era muito fácil deslizar até o Mato Grosso, para frear a penetração alheia. Essa localidade se mostrava como importante núcleo de defesa dos limites territoriais do Brasil e sua criação enquanto fortificação militar seguia as recomendações de dois exploradores, John Henry Elliot e Joaquim Francisco Lopes (Homem da Natureza), que em caso de guerra com países limítrofes, o grande sistema fluvial navegável da Bacia do Paraná, poderia servir para transporte de munição, víveres, às fronteiras dessas nações que tem comunicação direta com Jataí (às margens do rio Tibagi) pelos rios Paranapanema e Paraná.
O Porto Jataí já se destacava, mesmo antes de 1850, ao contrário de muitas outras regiões, com prática comercial ligada à exploração de diamantes no rio Tibagi, em virtude da ação dos bandeirantes.
Com a criação da Colônia no Porto do Arroio Jatahy, a mesma passaria a servir como centro e núcleo de povoação, devendo ampliar o trânsito pela nova via que era ligar Cuiabá, Província do Mato Grosso à Curitiba, passando pelos Campos Gerais. Como posto militar avançado, poderia prevenir e enfrentar possível ataque do Paraguai, país fronteiriço que com a adoção de uma política de autonomia, cresce economicamente e passa a ser uma ameaça aos países vizinhos, na América Latina e uma afronta à Senhora dos Mares, a Inglaterra.
O Imperador D. Pedro II ordena a criação da mais antiga Colônia Militar pelo decreto n. 751 de 2 de janeiro de 1851, mesmo antes da emancipação política da província do Paraná, que ocorre em 1853. A grande distância e grande dificuldade de contato com do Rio de Janeiro, centro político e administrativo de todo o Império, prorroga a efetiva instalação da Colônia Militar de Jatahy que ocorre somente em 10 de agosto de 1855.
A instalação da Colônia Militar ficou a cargo do Senador João da Silva Machado, agraciado com o título de Barão de Antonina, que desde 1841 já explorava essa área. A criação da Colônia em seu latifúndio também era de seu interesse porque promoveria a valorização das suas terras.
Em 1854, antes da instalação da Colônia Militar que só ocorre em 1855, são construídas a primeira igreja da Colônia, e também duas casas: uma serviria de quartel do comandante e capitão interino e a outra serviria de quartel dos colonos. As funções religiosas, com a construção da igreja, passam a ser dirigidas por Frei Mathias de Gênova que chega juntamente com Frei Timóteo de Castelnuovo. Após a instalação da Colônia, são enviados os primeiros escravos negros para o trabalho na colônia e no Aldeamento.
A inauguração do Aldeamento São Pedro de Alcântara, que ficou sob a responsabilidade do capuchinho Frei Timóteo de Castelnuovo, ocorre aos 2 de agosto de 1855 e se localizava na outra margem do rio Tibagi, opondo-se à localização da Colônia Militar. É realizada uma procissão que transporta, da capela da Colônia para o Aldeamento, por entre salvas, a imagem de Nossa Senhora da Conceição Imaculada, padroeira da Colônia Militar e São Pedro de Alcântara era o santo padroeiro do Aldeamento.
As tribos que passaram a fazer parte do aldeamento, eram originárias das Comarcas de Castro, Guarapuava e Palmas, viviam de assaltos aos tropeiros e viajantes que vinham do Rio Grande do Sul, conforme os relatos de Telêmaco Borba, que aqui viveu entre os militares e nativos.
Os nativos Kayoá foram os primeiros a inaugurarem o aldeamento mas já habitavam essa região desde 1852. Nos dias subseqüentes a inauguração do aldeamento (1855), mais índios Kayoá chegaram em pequenos grupos vindos da região do rio Paraná e Mato Grosso. Os Kaingáng, também denominados Coroados, chegaram aqui em fins de 1858. Em 1876 a população do aldeamento já era de 1487 pessoas, sendo: 124 brasileiros e estrangeiros, 902 coroados, 461 Kayoás.
A Imagem da Padroeira, Nossa Senhora da Imaculada Conceição, encontra-se ainda hoje em nosso município, ela é talhada em madeira e possui uma coroa de ouro e pedras preciosas nas cores da bandeira portuguesa. Frei Timóteo era muito devoto de Maria e pediu uma imagem de Maria Santíssima ao Padre Geral, que estava organizando uma grande exposição missionária em Roma, em 1877, mas a imagem que ele havia pedido não veio, mas veio outra, a Imagem de Nossa Sra. da Imaculada Conceição, que lhe fora mandada pela Princesa Isabel. Essa imagem permaneceu em Jacarezinho até 1955 quando foi trazida para Jataizinho por ocasião das comemorações do Centenário da Vinda de Frei Timóteo.
Há uma réplica da Coroa de Nsa. Sra. foi feita por iniciativa da comunidade que doou o ouro e as pedras preciosas de diversas qualidades para ser confeccionada em sua homenagem, valorizando ainda mais a bela e histórica imagem. Mas a imagem veio com uma coroa original de ouro com esmeraldas e rubi
Por volta de 1867 a Colônia já contava com 30 casas, uma olaria, fornos para fabricar tijolos e dois engenhos de moer cana, na produção agrícola era cultivado milho, feijão, cana- de- açúcar, mandioca, café e algodão. O que era produzido com excedente, era vendido e exportado, como o açúcar e a aguardente.
O café era produzido apenas para o consumo, mas já se fazia presente em nosso município em 1845, muito antes do norte do Paraná vir a ser conhecido mundialmente pela alta produtividade e qualidade do grão.
O aldeamento também progredia em número de nativos aldeados e em quantidades de alimentos e aguardentes produzidos em excedentes para exportar. Apenas três anos após a sua instalação, já era considerado o aldeamento mais importante da província. Em 1865 São Pedro de Alcântara passa a ser a Vice-Prefeitura do Sul Brasileiro, estando subordinadas a ela todos os aldeamentos-catequese do Paraná e da Província de São Paulo, sob responsabilidade de Frei Timóteo de Castelnuovo.
Em 1876, o aldeamento ocupava uma área de seis léguas na margem esquerda do Tibagi, e três léguas para o interior, possuía 11 casas cobertas com telhas, Igreja, ferraria, olaria e engenho.
O primeiro professor de primeiras letras e noções de música, Antônio Almeida Pereira, foi nomeado em 1861 para a catequese do aldeamento, seguindo o projeto imperial e a pedagogia missionária.
A primeira escola da Colônia é inaugurada 1870, sendo o primeiro professor nomeado o Sr. Antônio Correia Bittencourt. Em 1884 começou a funcionar sala de aula para o sexo feminino, a primeira professora era a D. Idalina Edelvina Bandeira Fernandes.
Os moradores mais antigos trazem na memória a presença de outra professora, leiga, que foi batizada e catequizada pôr Frei Timóteo, trata-se de Adélia Antunes Lopes. Adélia lecionava e catequizava tanto às crianças do aldeamento quanto às crianças da Colônia Militar. As pessoas mais antigas dizem que ela professora enérgica, gostava muito de rezar, era acolhedora às pessoas que precisavam de sua ajuda. Sua casa funcionava tal qual um abrigo às pessoas necessitadas, doentes, que chegavam ao local.
Em 1863 assume o comando da guarnição da Colônia Militar de Jataí o Capitão Vicente Antônio Rodrigues Borba, no lugar do Major Thomaz José Muniz, em virtude do avanço do ditador paraguaio Francisco Solano Lopez, sob as fronteiras Paranaenses.
Durante a Guerra contra o Paraguai, conflito extremamente violento que exterminou 800.000 de 1 milhão de paraguaios, as tropas brasileiras passavam por Jataí para seguirem para o Mato Grosso, onde estavam os inimigos. Frei Timóteo ajudava as tropas, servindo como ponto de apoio aos encarregados de transporte de materiais bélicos. Frei Timóteo enviou dois capelães para dar auxílio espiritual aos combatentes brasileiros, o Frei Mariano de Begnaia (capelão do Exército) e Frei Ângelo que foram aprisionados juntamente com os soldados.
O aldeamento São Pedro de Alcântara e a Colônia Militar de Jataí tiveram sua importância aumentada com o advento da Guerra contra o Paraguai, tornando-se centros ativos com o embarque e transporte das tralhas bélicas. O Porto de Jataí teve um movimento jamais visto antes, porque o único meio de transporte era o rio, pelo qual muitas canoas iam do Tibagi até o rios Paranapanema e Ivinhema, transportando armas e víveres, através do território nacional invadido pelos paraguaios.
Os índios Kayoá (guarani) que estavam aldeados no Aldeamento São Pedro de Alcântara foram de grande valor ao Império porque eram canoeiros de muita prática, e durante a Guerra do Paraguai, transportaram forças militares e material bélico para o Mato Grosso, através dos rios Tibagi, Paranapanema, Paraná e Ivinhema.
Frei Timóteo prestou uma homenagem ao atribuir o nome de D. Pedro II ao aldeamento, São Pedro de Alcântara que foi retribuída pelo Imperador que lhe enviou alguns sinos, com o brasão português para serem colocados na Igreja. O sino doado por D. Pedro II encontra-se ainda hoje na Igreja Matriz de Jataizinho, sendo uma relíquia de grande historicidade e motivo de grande orgulho pelos jataizinhenses.
A Colônia perde a sua importância estratégica com a Guerra contra o Paraguai em 1870, mas deixa oficialmente de ter caráter militar apenas em 1890, período em que se encontra em lastimáveis condições de abandono: a casa do diretor e a Igreja achavam-se em ruínas.
A Colônia militar de Jataí é elevada a categoria de vila em 1872, através da lei no.333 e nesse período ainda é de caráter militar mesmo possuindo apenas 5 soldados e um operário.
Em 1877 uma epidemia de varíola atingiu o aldeamento, matando mais de 400 indígenas. Os que não morreram abandonaram o aldeamento. A sede da Paróquia é transferida do aldeamento para a Colônia, na outra margem do rio Tibagi. Frei Timóteo insiste em permanecer no aldeamento, com alguns poucos índios que restaram.
Com o advento da República, a proteção econômica dada aos aldeamentos pelo Imperador deixa de existir, pois o mesmo é exilado do Brasil em 1889, ficando apenas a Igreja Católica a tentar seguir a difícil empreitada.
Frei Timóteo de Castelnuovo falece ao 72 anos, em 18/05/1895, nos braços de um velho negro e cercado pelos índios, desgostoso sem ter alguém que pudesse dar continuidade a sua obra, após tanta luta em busca de concretizar o sonho de ver esse local tão belo, o melhor em que já vivera, como uma área de grande progresso por seu grande potencial que a natureza lhe reservara. Na atualidade, seus restos mortais encontram-se no Cemitério Municipal de Jataizinho.
A finalidade militar da colônia se extinguira, e com o fim da guerra o tráfego no local diminuíra. Do outro lado do rio, o aldeamento praticamente se extinguira por causa das mortes dos nativos provocadas pela varíola . A morte do Frei foi o ponto final do aldeamento.